Basta a temperatura cair um pouco e o peito começa a chiar, a respiração fica difícil, o nariz entope e coça. É agora, nos meses do outono e do inverno, que as alergias respiratórias atacam com força total. “Nesta época, o clima seco e a falta de chuva dificultam a dispersão dos poluentes no ar, ao mesmo tempo que se proliferam ácaros e mofo. Todos são agentes alérgenos que atacam as vias respiratórias”, explica o pneumologista Daniel Deheinzelin, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. “Com a mudança climática, a mucosa nasal também fica mais ressecada e a secreção do muco que a protege diminui”, completa.
Você também tem sua parcela de culpa nessa encrenca. “No frio saem do guarda-roupa os edredons e as malhas de lã, que, guardados há meses, são verdadeiros focos de pó, ácaros e fungos”, acrescenta a pneumologista Iara Fiks,
do Hospital São Luiz, também em São Paulo.
Antes de mais nada, vale esclarecer o que acontece no seu corpo durante o processo alérgico. “Trata-se apenas de uma reação exagerada do sistema imunológico contra uma substância que potencialmente não é agressiva”, explica Fábio Castro, professor de imunologia clínica e alergia da Universidade de São Paulo (USP). Traduzindo: mesmo que um grão de pólen de uma flor não seja um inimigo implacável e perigoso, as defesas de seu corpo lutarão bravamente para combatê-lo. Nessa guerra contra o invasor, entra em ação um anticorpo chamado imunoglobulina E, que passa a ser
produzido em grande quantidade. “Ao tentar expulsar o agente alérgeno, ele faz com que as células liberem no sangue elementos químicos como a histamina, que deflagra os sintomas desagradáveis”, diz Deheinzelin.
Existem dois tipos de alergias respiratórias. Uma delas é a famosa rinite, que ocorre quando a área afetada é a mucosa nasal. Os sintomas típicos são espirros, obstrução e coceira no nariz (e às vezes ardor e vermelhidão nos olhos). A outra é a asma, conhecida como bronquite ou bronquite asmática: nesse caso a batalha se localiza nos brônquios,
os dois canais que se ramificam nos pulmões. Saldo do conflito: tosse, falta de ar, chiado ou aperto no peito. “Entre 10% e 15% da população tem asma. Já a rinite aflige de 30% a 40% das pessoas”, estima Elie Fiss, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e professor da Faculdade de Medicina do ABC. O pior de tudo é que, não raro, as duas doenças aparecem associadas em um só pobre coitado. “Cerca de 80% dos pacientes asmáticos têm quadros de rinite e em 20% dos casos a rinite pode evoluir para asma”, afirma Fábio Castro.
As causas do problema ainda não foram totalmente elucidadas, mas o fator hereditário pesa bastante. “Todo mundo tem 15% a 30% de risco de desenvolver uma alergia respiratória. Caso um dos pais tenha a doença, a probabilidade
aumenta para 50%. Se o pai e a mãe forem alérgicos, sobe para 75%”, avisa Castro. Segundo Elie Fiss, infecções virais, problemas digestivos (como refluxo) e alterações emocionais também estão associados ao problema.
Com tantas substâncias alérgenas à solta por aí – pó, pêlos de bichos, asas de insetos, substâncias escondidas nas fórmulas de perfumes e produtos de limpeza –, a recomendação é procurar um especialista para descobrir o vilão invisível que atormenta sua vida. “O exame de sangue de dosagem de imunoglobina E específica consegue identificar
a presença do anticorpo relacionado a determinado fator”, ensina Castro. Também há um teste feito na pele em que extratos diluídos de alérgenos são aplicados em um arranhão superficial no braço para checar a qual substância o organismo reage.
Geralmente a crise alérgica começa a dar as caras entre 5 e 20 minutos depois do contato com o agente alérgeno. Segundo o médico Fábio Castro, após seis a oito horas o paciente pode voltar a manifestar sintomas. As alergias respiratórias são tratadas com medicamentos como corticóides tópicos (aqueles sprays nasais) ou inalatórios, antihistamínicos injetáveis ou administrados por via oral) ou broncodilatadores (inaláveis, orais ou injetáveis). “A imunoterapia, popularmente
conhecida como vacina contra alergia, costuma apresentar excelentes resultados”, garante Castro. “O tratamento consiste na inoculação do extrato diluído do alérgeno ao qual a pessoa é sensível, por meio de injeção, em doses que aumentam gradativamente com o objetivo de reduzir a sensibilidade a ele.”
Para afastar da sua frente as substâncias indesejáveis que fazem você se acabar em espirros, é importante evitar as situações e os ambientes favoráveis à sua presença. Se você e seu médico já descobriram o invasor que detona suas vias respiratórias, entre em guerra contra ele. Veja a lista dos principais agentes alérgenos:
Ácaros e fungos
Onde estão: principais agentes causadores das alergias, multiplicam-se em locais onde se acumulam poeira, mofo e células mortas de pele humana, como edredons, malhas de lã, colchões, sofás, carpetes, cortinas e papéis. Quando são mais perigosos: durante todo o ano, mas especialmente no outono e no inverno, quando o ar fica seco, você retira
do armário seus cobertores e roupas de frio e mantém a casa fechada.
Como combatê-los: abra as janelas e deixe
os ambientes bem ventilados. Lave casacos, malhas de lã e roupas de cama e deixe-os no sol antes de usá-los. Forre o colchão com uma capa antialérgica de tecido, encontrada em lojas de artigos de cama, mesa e banho. Se possível, evite
ter tapete no quarto. Aposente o espanador de pó, pois ele só espalha a poeira. Existem também à venda fungicidas e acaricidas em spray, que combatem esses microorganismos.

Pêlos de animais
Onde estão: em todos os lugares das casas onde vivem cães e gatos. Além dos pêlos, a saliva, a urina e células mortas da pele dos bichos também causam alergia. Quando são mais perigosos:o tempo inteiro, e mais ainda quando você pega no colo o cachorro da namorada ou visita aquela sua tia que tem sete gatos. Como combatê-los: provavelmente você tem de abrir mão da companhia de seu melhor amigo. Ou, pelo menos, limitar os espaços dele dentro da casa.
Opte por raças de pelagem mais curta, que perdem menos pêlos. Não deixe o bicho dormir na sua cama e dê banho nele com freqüência (uma vez por semana é suficiente). Lave as mãos depois de brincar com o animal ou pegá-lo no colo e não deixe que pêlos fiquem presos à roupa. Estudos apontam que animais castrados produzem menos substâncias alérgenas para o homem.

Pólen
Onde estão:a fina poeira voa das flores para qualquer lugar, mas ataca principalmente no sul do país e em regiões serranas, onde as estações climáticas são mais definidas. Quando são mais perigosos:a partir do mês de setembro, na primavera, época em que começa a floração de grande parte das plantas. E toda vez que você compra flores para dar de presente para sua namorada. Como combatê-los: como o pólen se espalha no ar, não há muito o que fazer para evitar o contato. A solução é se submeter à imunoterapia e um tratamento com corticóides inalatórios, que bloqueiam a reação alérgica no período de floração.
Resto de insetos
Onde estão: asas, patinhas e outros detritos nojentos de bichos como baratas, aranhas e mariposas se escondem especialmente em depósitos e lugares de estocagem de alimentos, fábricas e escritórios. Já deu uma boa olhada na sua gaveta? Quando são mais perigosos: esses restos mortais estão por aí durante o ano todo e a alergia ataca sempre que você chega perto deles. Como combatê-los: se você notar que os sintomas aparecem no seu local de trabalho, agende uma boa dedetização. E, claro, uma limpeza bem-feita com vassoura e pano úmido manda embora os despojos desses intrusos.
Perfumes e produtos de limpeza
Onde estão: no armário do banheiro, em seu nécessaire ou na lavanderia. Quando são mais perigosos: toda vez que você quer ficar limpo e perfumado ou mandar a empregada fazer uma bela faxina. Como combatê-los: é preciso identificar qual é exatamente o produto cuja fórmula contém a substância que provoca a reação alérgica e trocá-lo por outra marca. No caso dos perfumes, por exemplo, se determinada fragrância tapa seu nariz ou faz você espirrar como louco, pode ser que você dê mais sorte com outra. Xampus e sabonetes podem ser substituídos pelos neutros, formulados para bebês e muito mais suaves. Se o problema for detonado por produtos de limpeza, tente aqueles
sem aromatizantes, que são as substâncias que costumam deflagrar a alergia.


FONTE MENSHEALTH